quarta-feira, dezembro 14, 2005

o pato real da gulbenkian

tenho, desde já há algum tempo, uma relação de amor-ódio com os patos que vivem nos jardins da gulbenkian. chamam-se patos reais (Anas platyrhynchos), e apesar de se tratar de uma espécie originalmente migratória, sedentarizam-se facilmente quando as condições o permitem.
este bicho passeia-se pela gulbenkian como se fosse o provedor da fundação. com um lago maravilhoso ali à espera prefere, esquisitinho como é, rebolar-se nos espelhos de água das entradas do museu gulbenkian e do museu de arte moderna. com medo se se sujar, ou que a água não esteja a ser posta em recirculação à velocidade adequada. sem precisar de fazer qualquer esforço de sobrevivência (tem a comida à disposição), refila com tudo e em todas as circunstâncias.
muuuito vaidoso, como se percebe pelo dimorfismo sexual da espécie (a fémea é castanha e tem um comportamento muito mais normal), é socialmente um bicho muito fechado, só se relacionando com outros patos do mesmo nicho.
grasna, grasna, grasna quando as coisas não lhe agradam (basically, all of the time), como se fosse dono daquilo tudo. e quando vou para os jardins da fundação deitar-me na relva para apanhar sol, na altura em que me estava mesmo a apetecer ouvir um grasnarzito, o sacana do bicho fica calado como, olha, como um rato.
trata-se, para além do mais, de um bicho muito pouco fiável. de comportamento errático, tanto mergulha um bocadinho como voa um bocadinho - sempre muito baixo, não é de grandes aventuras (é sempre tudo "um bocadinho"). apesar de se chamar pato real, não há nada de nobre na forma como as fémeas são tratadas pelos machos, sendo isto em parte devido ao elevado índice de homossexualidade verificado in loco.
enquando pato bebé anda sempre atrás da mãe pata, até uma idade exageradamente avançada. é possivelmente este o motivo do bicho ser tão irritante, excesso de mimo e falta de luta pela sobrevivência.
quando se atravessa à minha frente nos percursos do jardim, muito calmamente, como se fosse o rei daquilo tudo (e eu que me lixe e fique à espera, sua alteza está as fazer as suas coisinhas), não sei se lhe faça uma festinha ou lhe dê um pontapé. se fosse da administração da gulbenkian ou obrigava os bichos a mudar de atitude, ou já tinha agarrado neles e ido largá-los numa albufeira do alentejo interior. ao fim e ao cabo, ninguém nos pode obrigar a aturar este tipo de comportamento na nossa própria casa.

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