quinta-feira, dezembro 07, 2006

notas soltas

a construção poética e as especificidades semânticas do favas com chouriço não são fáceis de esquecer. só assim se justifica tanto eu como o f. num momento de crise reagirmos da mesma maneira "espera lá, é preciso aqui qualquer coisa que salve a situção, chacáver, chacáver, aha!, isto é um trabalho para o favas com chouriço!". mas há só uma ou outra frase que eu gostava de sublinhar, talvez porque nunca seja demais fazê-lo.
ora, uma primeira:
acordas-me com um beijo e um sorriso no olhar, e levantas-me da cama, depois tiras-me o pijama, faço a barba e dá na rádio o zé cid a cantar
(notem, o cid a cantar)
outra:
chego à repartição, dou um beijo no escrivão e nem toco na secretária, que é tão boa
(destaca-se aqui a perfeição da rima repartição-escrivão)
e a melhor, para acabar:
e às 5.30h em ponto, telefonas-me a dizer "não sei viver sem ti, amor, não sei o que fazer" faz-me favas com chouriço que é o meu prato favorito, quando chego para jantar quase nem acredito.
muito sumo aqui, muito sumo. ela não sabe viver sem ele, não sabe o que fazer, e vá de dizer-lhe: ele reage mandando-a fazer favas com chouriço, num gesto indesmentível de paixão. de notar a rima invulgar (e por isso próxima da genialidade) chouriço-favorito. até aqui tudo bem. o que nos surpreende é que, tendo o zé cid mandado a escrava, perdão, mulher, fazer favas com chouriço, quase nem acreditar quando vê o que tem para jantar (inferimos que seja favas com chouriço). há ainda um ponto para o qual chamo a vossa atenção: a cara do josé cid enquanto ela lhe diz "não sei viver sem ti, amor, não sei o que fazer". ora revejam.

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