quarta-feira, julho 11, 2007

O Zé não faz falta

O Zé tem dois cartazes de campanha emblemáticos da sua postura e da abordagem que faz aos problemas da cidade, que decorre, em parte, pelo partido que o sustenta, em parte, pela imagem que pretende transmitir ao eleitorado.
O primeiro diz-nos que com o Zé (Zezé para os amigos - sempre gostei do tratamento por petits noms, dá-nos uma sensação de proximidade e de maior conhecimento do candidato, no fundo o Zé é "cá da malta") haveria mais casas para arrendar.
Mas o Zé, no seu mar de sapiência, esquece-se de uma coisa. De um pormenor. De um pequeno - quase invisível - detalhe, sem a mínima importância, para uma mente pequeno-burocrata que julga que pode fazer funcionar o mercado imobiliário e de arrendamento de imóveis pela promulgação de decretos ou pela manipulação centralizada dos preços: o de saber o que as pessoas querem decidir. Tenho para mim, que a maioria das pessoas prefere pagar, ao longo da vida, por uma coisa, para no fim ficar com ela, do que pagar para no fim não ficar com nada.
Aposto que o Zé não é proprietário da sua modesta habitação, um rés-do-chão antigo, com duas divisões, encastrado num prédio de dois andares, necessitado de obras do senhorio, para os lados da Madragoa e com uma renda mensal de dois e quinhentos. O Zé prima pela coerência, quer para os outros, o que quer para ele.
O segundo cartaz diz-nos que com o Zé não haveria mais negociatas.
O Zé imbuído no seu espírito justiceiro relega os negócios, um acordo livre celebrado por vontade própria entre partes, necessários à sobrevivência de qualquer instituição, seja ela pública ou privada, para a categoria de manigância.
No fundo, descodificando, o que o Zé nos está a passar é que eles (os outros que lá estiveram e os que se propõem ocupar a posição de presidente de câmara) são todos uns corruptos, indignos de merecer a confiança, e, consequentemente, o voto do eleitorado. O Zé, não. O Zé é o escolhido pela razão. O Zé, do alto da sua hegemonia moral, é o único impoluto, a única pessoa de bem no meio político. O Zé é imaculadamente exclusivo e moralmente superior aos demais. "Um poço de virtudes". É excepcionalmente incomparável, encontra-se nos píncaros. O único, cuja supremacia moral lhe permite dizer "umas verdades" e pôr a escumalha (leia-se, os restantes políticos) na ordem".
Como é óbvio, a minha escolha nunca recairá num candidato cujo código moral tem por função primeira, não a de pautar a sua própria conduta, mas a de ajuizar e julgar os outros em praça pública, pretendendo retirar daí os respectivos dividendos políticos.
Finalmente, não poderei estar mais de acordo com a minha companheira deste imponente challet sour mer planté: o que, realmente, faz falta à edilidade é uma personalidade estalinista.

3 comentários:

João Pereira da Silva disse...

Ó Babe, mas afinal, em estilo jornalístico, acabaste por explicar que o Zé é o único político sério que concorre. Os outros, todos uns corruptos, o Zé, até podia ser melhor se os metesse a todos em tribunal. Não devia era fazê-lo na praça "púbica".
Porque nós por cá até temos vergonha da desgraça "púbica" a que chegámos...
Entretanto, e por coerência, continuas a votar nos ricos e podres porque esses ao menos não tentam disfarçar. Bandido honestos porque nem o negam nem se acusam mutuamente.
Ó Babe... vota mas é no Zé.

babe disse...

Junq, 3 pontos apenas:
1. "... o Zé é o único político sério que concorre.", agora, dá para perceber porque é que ainda acreditas no Pai Natal.
2. "Não devia era fazê-lo na praça "púbica".", num país civilizado a justiça e os julgamentos são feitos nos tribunais, não nos jornais.
3. Ó Junq... no Domingo, vai mas é a banhos.

João Pereira da Silva disse...

A banhos em Oeiras que eu voto Isaltino... Sem Zé e sabendo o que gasta a casa... sucesso garantido.