e entretanto, na noite americana...
(...) Em Lost in translation podemos dizer, sem grande exagero, que o tema da caixinha do chinês, é todo o filme. O que Bob diz a Charlotte no fim, podemos dizê-lo, é irrelevante. Mas dificilmente conseguiremos viver descansados com essa convicção. É verdade que o filme vale pelo estado de perdição em que os dois protagonistas se encontram mergulhados e pelos caminhos que (por isso) tomam, pelas questões que nos fazem enfrentar. Mas é possível sobreviver à linguagem de redenção que sobrevem ao abraço, ao segredar e ao beijo de Bob a Charlotte? Cada um reagirá à sua maneira mas será, no mínimo, difícil, perante as palavras ocultas, ignorar a restante linguagem cinematográfica que nesse momento se transfigura. Os risos e sorrisos de ambas as personagens, os planos abertos e promissores, o Just Like Honey dos The Jesus and Mary Chain. Tudo ali indica uma libertação e uma pacificação, cuja razão e o sentido nos escapa mas que nem por isso é menos real.Seria interessante acreditar que o não sabermos é uma dávida de Sofia Coppola. Um desespero acompanhado da suprema liberdade interpretativa. O espectador sozinho consigo e a criação. Talvez.
DM
adenda: na penúltima linha há uma gralha. "dávida" é "dádiva". Mas gosto tanto do erro que o deixei ficar. Grato pela compreensão.
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